Breve história
Para começar a contar a história de Mira de Aire, antes de mais, precisamos olhar para o conjunto das povoações de Mira e Minde, e depois à simbiose com a indústria têxtil.
Os vestígios de presença humana no polje Mira-Minde remonta ao paleolítico, contudo dados documentais surgem apenas no século XII aquando da constituição da Albergria de Minde por carta de privilégio emitida pelo rei D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Alcobaça. Esta carta determinava que catorze homens encabeçados por D. David povoassem este local isentos de jugada, e ainda que não poderiam fixar-se em Minde foreiros do rei e que ficaria vedada aos albergueiros a aquisição de herdades de que o rei era senhorio. Por contrapartida estes albergueiros facultariam pousada, candeia, e água de graça aos caminhantes que por ali passassem. Isto porque o polje situava-se numa das principais vias de comunicação entre o litoral e o interior e rotas de comércio.
Estima-se que estas quinze pessoas em pouco tempo se terão transformado numa centena que viviam essencialmente da criação de gado lanígero, e cultura de trigo, oliveira e vinha.
Dois séculos mais tarde, com os privilégios comerciais concedidos por D. Pedro I, ou seja, a venda livre de gado e tecidos caseiros feitos de lã em Porto de Mós, a tecelagem torna-se numa das principais atividades da povoação, com importante desenvolvimento nos séculos seguintes. Já no século XVIII D. Maria I, alarga até Minde a dispensa do pagamento de direitos sobre produtos lanifícios constituindo-se aqui uma das Fábricas Reais de Panos.
Durante cerca de seis séculos, o lugar da Mira viveu estreitamente ligado a Minde, até que, em princípios do século XVIII, o aumento da população e dos recursos económicos levaram a que se erigisse em paróquia a ermida de Nossa senhora do Amparo. Foi este o primeiro sinal de independência da futura paróquia, pois cerca de vinte anos depois tornar-se-ia Mira uma freguesia independente.
A freguesia de Mira crescera e desenvolvera-se de forma excecional a partir do início do novo século. Em 1904, já Mira aparece dotada com seis fábricas de tecidos de lã, ao mesmo tempo que começa a tomar vulto o comércio das peles, cera e azeite. Desta data em diante, o ininterrupto desenvolvimento industrial conduz a um notável acréscimo da população, que, de 1238 habitantes em 1909, passa para 1722 em 1930, suplantando já a freguesia-mãe, Minde.
Nesta altura começou-se a desejar um topónimo da freguesia mais individualizado, para que não se confundisse de forma alguma com a outra Mira, vizinha de Cantanhede. Era frequente o extravio de correspondência motivado por essa confusão toponímica, o que acarretava os seus transtornos para o comércio e indústria locais. Na década de trinta cria-se um movimento organizado de mirenses no sentido de ser dado cumprimento a tais aspirações.
Quanto à escolha do nome a dar à nova vila houve algum diferendo. Aventaram-se geónimos como Mirabela, Mira de Porto de Mós e Mira d’Aire. Só não se optou por este último, porque na época o apóstrofo tinha sido recentemente abolido da ortografia portuguesa. Finalmente, acertado o nome, pelo Decreto n.º 22432 de 10 de Abril de 1933, publicado no Diário do Governo da mesma data, a freguesia de Mira foi elevada à categoria de vila com o nome atual. A vizinha Minde só viria a conseguir a sua promoção a vila daí a trinta anos, mais precisamente em 14 de Agosto de 1963. A filha ultrapassara a mãe de cujo colo nascera.
Em 1958, Mira de Aire era «a mais progressiva vila do concelho de Porto de Mós, pelo incremento dado às suas indústrias nos últimos trinta anos», representando o seu poder contribuinte mais de dois terços da receita arrecadada pelo município
À época áurea que os têxteis e lanifícios mirenses conheceram nos anos 50 e 60 segue-se um grave ciclo de recessão económica. A população residente ultrapassava os 4000 habitantes. Trata-se, contudo, de uma população híbrida. A industrialização das décadas anteriores provocou um fenómeno migratório que trouxe para Mira de Aire gente dos quatro cantos de Portugal. Com o recenseamento eleitoral de 1979 constata-se que os 3087 eleitores aqui inscritos (acima dos 18 anos) são naturais de 157 concelhos e 417 freguesias diferentes.
É também nesta década, mais precisamente a 11 de Agosto de 1974 que as grutas de Mira de Aire abrem as suas portas ao público. Tal atração turística contribui para o desenvolvimento do comércio e serviços locais.
Com o aproximar do século XX a indústria têxtil entra em recessão o que se reflete na população, que começa, uma vez mais, a abandonar a Vila à procura de melhores oportunidades de trabalho.
Hoje, Mira de Aire, vive da nostalgia da indústria que a fez crescer em dimensão territorial e populacional, com a certeza que é detentora de uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, que trazem até si, anualmente, milhares de turistas nacionais e estrangeiros.